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Crássula

Num canto sombrio jaze um vaso de crássula Que lhe falta flores e o verde vibrante da rúcula Feio o vaso, feio o canto. Há uma enorme mácula Há umas paredes inclinadas à esdrúxula Igual a estas rimas: Proparoxítonas ácidas É sinistro aquele canto, tem a face mórbida Se vidas houve alí, hoje não são mais ávidas É próprio dessa esquina ser assim túrbida Da planta, todas as folhas são cadáveres Do vaso, à pobre terra, suas paredes são cárceres É um cemitério aquele canto impávido Se já teve luz, se já seu ar um dia foi cândido Talvez o sol queimou até fazê-lo assim árido Fez das areias do vaso, para sempre, solos impúberes

Não me Doeu

 Meus assassinos mereciam uma vítima melhor Que lutasse pela vida com uma certa dor Não quem já não se importasse como eu Que morri de dor, mas não me doeu

Mais que

 Tua mãe, que te deu a vida, não te ama tanto quanto eu Pois, eu daria, pela tua, a vida que a minha mãe me deu Far-te-ia eterna mesmo que fosse para te amarem outros tais Tornar-te eu iria mais coisa minha do poderiam tornar-te os teus pais www.idilioliteratura.blogspot.com

Memória

 Como deixar de sonhar em te ter Se não acordei do beijo que me deste Ainda queima o fogo que em mim ardeste Se és a memória, como poderia te esquecer

Beduino

Imagem
 No lugar onde habito Há um antigo hábito De se cobrir de hábito Quando chega o amanhecer Ao atravessar o deserto Tem que, de certo Para que a viagem dê certo O beduíno se proteger Sob o sol em brasa No chão que embrasa Um pano que lembra asa Vai se arrastando pela areia Esse lugar que outros evitam Se limitam aonde, em fim, estão Com meus olhos eu nunca vi tão Bonita paisagem que me rodeia

Criança Sofrida

Há gente que cobre o ar da atmosfera e se alimenta de luz Não viveu o bastante para cometer pecado mas carrega cruz Mal é capaz de entender os porquês das desventuras da vida Porquê rezar, porquê estudar, porquê votar, criança sofrida

Essas Paixões

 O que se há-de fazer contra uma paixão que, de tão avassaladora, transpõe-se às barragens que o bom senso constrói, na ingénua intenção de evitar as tragédias que dessas paixões surgem?! São desmedidas paixões. Já brotam frondosas, imprevisilmente tempestuosas. Não crescem, já nascem grandes! O que se faz contra um monstro cujo golpe, antes que se sinta a dor, já feriu e destruiu tudo que há em volta? Paixões desse tipo deseja-se ao inimigo, para que o próprio se mate sem o nosso esforço. Aos amigos quer-se paixões maisomenadas. Aquelas que têm preguiça de ir além do que já são. Tão serenas e contidas, que não se importam de existir e permanecer por longos anos.