Chamo-te linda quando encarno minha forma singela
E deslumbrante quando tento ser um realista
Uso termos que só quem entende é um artista
Quando quero te ofender chamo-te apenas bela
Não fique ou vá, não despeça ou ignore Evite avisar ou me surprender Peço que não acalme nem apavore Não deixe vivo a sofrer nem morrer Se for não ou sim não me diga agora Nem depois ou qualquer tempo que for Não suma mas não fique onde já mora Não desejo alegria nem torpor Quero viva a esperança de talvez um dia Hesitantes passos na porta da saída Uma dúvida permanente de vigia Nossos olhares presos entre a volta e a ida Um misto de raiva e contida simpatia Na meia luz da tarde quase anoitecida
Saudade até mata mas não que leve ao enterro O vírus -esse sim- me brindaria com um funeral Por isso, para te ver, por enquanto ainda espero Que passe a quarentena e junto leve este mal
Meus assassinos mereciam uma vítima melhor Que lutasse pela vida com uma certa dor Não quem já não se importasse como eu Que morri de dor, mas não me doeu