Tu não sabes o que vivi quando quase nem vivia
Os desertos por que passei onde areia nem havia
Não sabes que dores tive e que amores perdi
Sabes tanto de mim quanto eu nada sei de ti
Não fique ou vá, não despeça ou ignore Evite avisar ou me surprender Peço que não acalme nem apavore Não deixe vivo a sofrer nem morrer Se for não ou sim não me diga agora Nem depois ou qualquer tempo que for Não suma mas não fique onde já mora Não desejo alegria nem torpor Quero viva a esperança de talvez um dia Hesitantes passos na porta da saída Uma dúvida permanente de vigia Nossos olhares presos entre a volta e a ida Um misto de raiva e contida simpatia Na meia luz da tarde quase anoitecida
É perigoso amar incomensuravelmente. Se não tem a mente e o coração equilibrados não tente. Se não ainda corre o risco de subir na corda bamba E, em cima dela, ter que arriscar alguns passos de samba.
Uma gota do teu sangue no tubo de ensaio Que é para pesquisar o que há em ti Que me deixa atónito e quase senil Aos teus modos onde sempre caio Um fio do teu cabelo na palhota da avó Que é para descobrir se há magia Nesse olhar invasivo que vicia Faz um coração de pedra ser de pó Sobras de tuas unhas cortadas Eu levo ao caldeirão de um mestre Que as cozinha com erva silvestre E me dá de beber às umas das madrugadas Eu pergunto à ciência, à alquimia, à religião O que tens que me rouba os sentidos Quais segredos tens aí escondidos A fazem-me ser de ti, mas das outras não